terça-feira, 17 de abril de 2007

they shot the stars down

E quando quiserem começar a rever aquela emenda estúpida que diz que o direito à autodefesa inclui uma arma sempre à mão para matarem quem quiserem, estejam à vontade...

terça-feira, 3 de abril de 2007

talvez as almas sejam grandes blocos de pedra

Talvez as almas sejam grandes blocos de pedra.
(Talvez. Podemos dizer o que quisermos, quando começamos as frases com talvez.. Porque nunca se sabe – talvez seja realmente assim, talvez as almas sejam realmente como grandes blocos de pedra.)
No príncipio são toscas e primitivas. Mas as suas próprias vidas as desgastam, as desbastam, as esculpem. E a solidão é o que fica depois do gelo penetrar bem fundo nas fissuras graníticas da nossa alma, derreter em água e esvair-se no ar. O problema é a sucessão dos invernos desacompanhados ao longo dos anos. É assim que as nossas almas, que são rochas, colapsam e se fragmentam em areia – da mesma areia quente de que são feitos os desertos.
Também há invernos em agosto. Num agosto banal o sol é demasiado redondo, demasiado obeso, quase maior que o céu. Enche os becos mais obscuros com os reflexos da sua luz, e aquece os corpos no limite do suportável: os braços tombam, frouxos, ladeando o tronco, as pálpebras fingem um perpétuo adormecimento, a cabeça parece latejar, o crânio torna-se maciço, difícil de sustentar sobre o pescoço, também ele fatigado. É um calor que inibe os pensamentos e dá um significado novo às acções, mais longe do mundo real, mais perto dos sonhos. Os invernos em agosto não têm temperaturas menos mórbidas. Falta-lhes, isso sim, a luz, consoladora e omnipresente, o súor, que torna etéreos os actos praticados, e a refrescante brisa nocturna que dá vontade de viver.

Continua aqui.