sexta-feira, 29 de junho de 2007

o chão que ela pisa/ the ground beneath her feet, Salman Rushdie





Uma história de amores, desamores e pop stars, com música dos U2 feita propositadamente para o efeito. O escritor (muito mediático, acrescente-se, para um escritor) até aparece no videoclip!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Frustration

If I had a shiny gun
I could have a world of fun
Speeding bullets through the brains
Of the folk who give me pains;

Or had I some poison gas,
I could make the moments pass
Bumping off a number of
People whom I do not love

But I have no lethal weapon -
Thus does Fate our pleasure step on!
So they still are quick and well
Who should be, by rights, in hell.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

um assustador problema de física

"17. Uma criança de massa mc = 30 kg sentada num carrinho de massa mv = 50 kg lan¸ca
para trás pedras de massa mp = 2 kg com velocidade v = 5m/s (medida no referencial do
centro de massa do sistema). Admita que o carrinho pode rolar sem atrito e que no instante
inicial se encontra em repouso e contem 20 pedras.

a) Calcule a velocidade do carrinho após a criança ter lan¸cado a primeira pedra;
b) Calcule a velocidade do carrinho após a criança ter lan¸cado a segunda pedra;"

Uma criança, num carrinho, a atirar pedras e a descer desgovernadamente por uma rua gelada? Acho que os filhos dos professores de física devem ter umas infâncias extremamente traumatizantes; para eles e para os pais, que levam pedradas nos olhos.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

já foi mais fácil mandar calar

Foi aqui, em textos como este, que começou o caso José Sócrates, a subsequente investigação jornalística, o pedido de explicaçõs de Marques Mendes, e depois, novamente mais investigação jornalística e depois aquele que foi o meu detalhe favorito no processo todo: as "declarações bombásticas" da UnI.
Sócrates usou indevidamente o título de Engenheiro. O máximo que ele obteve foi um título de qualquer-coisa-que-equivale-a-uma-licenciatura-ou-bacharelato-ou-lá-o-que-é de Engenharia, numa universidade privada tão prestigiante que acabou ver todos os seus dirigentes presos há bem pouco tempo, com estardalhaço e aspecto de máfia portuguesa. Ok, sobre isto já ninguém tem dúvidas. De pois de muito balbuciar, de nos apresentar aquele seu fashionable look de primeiro-ministro que não presta declarações sobre assuntos polémicos (1), o próprio Sócrates acabou por admitir, pelo menos essa parte.
A UnI veio depois encerrar o assunto porque tinha declarações bombásticas para dizer numa terça, que, afinal, era uma quinta, e que afinal, não eram bombásticas, mas sim uma súmula daquilo que já se sabia.
A mim não me importa muito saber se o primeiro-ministro é Engº ou deixa de o ser. Eu nem fazia a miníma ideia de que é que ele se dizia ser engenheiro antes desta polémica. E mais preocupante do que tentar passar-se por alguém que não é, usando um título que não é seu. Nunca foi tão fácil fazer piadas, para mais para quem estuda numa universidade que forma, principalmente, engenheiros. O que me espanta, o que me preocupa, são as notícias que agora surgem, que mostram não só o pouco desportivismo do primeiro-ministro, como a sua veia ditatorial de oposição à liberdade de expressão. Por ter revelado factos, o autor do blog Portugal Profundo, que mencionei no príncipio, foi constituído arguido.
Eu não sou fã do blogue, uma vez que traz a lume um tipo de artigos sensacionalistas que não me dizem muito, mas sou fã da liberdade de expressão. E não é assim que o primeiro-ministro calará a blogosfera. Somos muitos e todos prezamos muito a possibilidade de nos exprimirmos em lugares públicos, à vista de todos, as nossas opiniões.
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(1) Aconselho vivamente a que sigam este link em particular...
(2) Já não é a primeira vez que o autor do blogue é constituído arguido pela sua habilidade em remexer em assuntos polémicos, e já foi absolvido por esses assuntos relacionados com o caso Casa Pia e uma suposta quebra do segredo de justiça.

tenho a comunicar que não tenho nada a comunicar

Estamos a chegar ao Verão. Não sabemos que estamos no Verão por causa do sol, afinal de contas o tempo tem estado de chuva. Não sabemos que estamos no Verão porque começamos a suspirar pelas férias, como bons portugueses fazemos isso várias vezes ao ano; além de que ir para a praia em Setembro sai mais barato.
É pelos jornais que eu constato que estamos a chegar ao Verão. Porque o mercado de transferências já começou as suas movimentações. É a abertura oficial da época da não-notícia que invade jornais e telejornais por esta altura do ano. Em breve vamos ver títulos como: "há pessoas que aproveitaram o facto de estar sol e um calor estafante de 35º para ir à praia" ou "vamos já em directo para a assembleia da república, ver como está vazia porque os políticos estão todos de férias", ou ainda, "ao que parece nesta montanha já não há nada para arder, mas estamos aqui porque não tem havido muitos fogos e portanto temos ainda que fazer a reportagem deste desolador monte de cinzas durante mais uns quatro ou cinco dias".
Querem ver? Querem ver?

domingo, 17 de junho de 2007

e já agora

- Ir de limousine até ao supermercado.

little things to do

- Perder 1000 euros numa única aposta no blackjack (a aposta pode ser maior, conforme as possibilidades, claro está).
- Ir aos cinco continentes.
- Correr a meia-maratona de Lisboa, de Londres, e a da Midnight Sun Marathon, na Noruega.
- Comer spaghetti em Itália para jantar e depois voltar para Portugal na mesma noite (o nascer do sol conta como "a mesma noite").
- Noite de ano novo na Times Square.
- Esquiar nos Alpes.
- Ver nevar em Paris, e em Lisboa, já agora.
- Fazer um interrail.

sábado, 16 de junho de 2007

playlist #01 - this and that

The Repudiated Immortals - Of Montreal
Revelations - Audioslave
A Lady Of A Certain Age - The Divine Comedy
Intervention - Arcade Fire
Last Nite - The Strokes

sexta-feira, 15 de junho de 2007

1

A estação de metro está apinhada de gente. Quando o mundo está tão cheio de pessoas, não damos por mais uma, menos uma, há um equilíbrio dinâmico que não nos diz nada. Perto do olhar, longe do coração. Cada um de nós tem o seu mundo dentro do mundo. O meu mundo é daltónico, manco e maneta, mas é o meu mundo. Há mais luas, há mais eclipses neste mundo do que em outros mundos, mas é este o meu mundo.

O mundo de Lia gira incontrolavelmente. O mundo de Lia é incostante, dilata-se e estreita-se. O chão do mundo de Lia escapasse-lhe sob os pés e ela quase cai, mas apoia-se numa parede. Lia cerra os dentes, fecha os punhos. Dói-lhe a cabeça.

Doem-lhe todas as vozes em uníssono. As do passado, as do presente, aquelas que ela inventou em sonhos. A mãe com as suas palavras enroladas como cigarrilhas, os seus francesismos. Chardonnay, um copo de champanhe que cai e toca o chão e se estilhaça. O som de um coração apertado contra o peito. Gritos, passos, um soalho de madeira que range. Vendedores que apregoam laranjas. Adolescentes que se riem muito alto. O retumbante silêncio dos viajantes solitários. Um crescendo de violinos. Todas as vozes, agora, sob a batuta de um maestro de fraque negro, vamos lá, as contraltos, os barítonos, as sopranos, os tenores, todos, um clamor que se eleva entre o burburinho do fim de tarde.

Completo aqui.

2

A Terra exerce a sua força sobre o corpo de Gabriel, e a fadiga obriga-o a ceder. A intermitência das pálpebras inibe as certezas e torna vaga e difusa a vida para além do seu corpo. Como é bela a ignorância. Bela e escura, sulcada por trilhos de luz inintelígiveis. A sensação de que não existe mais nada; fechamos os olhos e tudo desaparece. A ignorância é onde nos escudamos dos problemas. Porque só temos obstáculos se os virmos lá, se soubermos que eles estão lá. Senão tropeçamos e levantamo-nos, como se não fosse nada. Nem damos por isso.

Vai contra a natureza humana. Porque, quando nascemos, nada temos de humano. Nascemos nas trevas claras do saco amniótico. Aprendemos a andar, a falar, a desiludirmo-nos, a trautear músicas no chuveiro, a usar de cadeiras para súbir a prateleiras mais altas, a gastar dinheiro em slot machines. Aprendemos tanto, erramos tanto. Às vezes só apetece fechar os olhos. Voltar ao momento inicial.

Fora de nós as coisas acontecem como nós saberíamos que elas acontecem se não optássemos pela ignorância. O chão devora os degraus da escada rolante. Os segundos passam. Os minutos também. Algumas pessoas discutem um escandâlo político qualquer. Alguém passa a correr, resmungando

- Chega para lá!

Seremos certamente obrigados a abrir os olhos, mais tarde ou mais cedo. E se esse momento chegar, então que seja como da primeira vez. Que seja tudo novo, mesmo o que é velho, mesmo aquela escultura na estação de metro, sempre igual, sempre pedra, sempre abstracta.

Completo aqui.

domingo, 10 de junho de 2007

Giovanni Sollima - Sogno ad Occhi Aperti

Em baixo: vídeos do violoncelista italiano Giovanni Solima, realizados por Lasse Gjertsen. A parte 1 é especialmente boa. Vejam este vídeo também. Ou todos eles (o filme Jeg går en tur tem legendas, não se preocupem...).

Giovanni Sollima - Sogno ad Occhi Aperti (Daydream)

Ok, enganei-me e deletei os posts com os vídeos. Vou deixar os links:

Parte 1;
Parte 2.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

relativização

Ao que parece a melhor forma de nos recordarmos bem do que é importante é esquecermos o que não é importante. Um estudo publicado na revista Nature NeuroScience, citado pelo New York Times diz que o nosso cérebro tem mais facilidade em procurar as memórias relevantes se ignorar o que é irrelevante.

Nem sempre é fácil descobrirmos o que é importante. Uma grande parte do sucesso do Google enquanto motor de busca deve-se ao facto de conseguir, para uma dada pesquisa, mostrar as páginas mais relevantes, de forma a que, geralmente, encontremos na primeira página de resultados aquilo que procuramos.

O problema é que nem sempre é fácil para nós manter a mente organizada e esquecer aquilo de que não precisamos. Michael Anderson, professor de neurociência cognitiva na Universidade de Oregon diz que "a nossa cabeça está repleta de um surpeendente número de coisas que não precisamos de saber".

Mas a questão que eu tenho é: alguém me diz o que é, afinal, importante ou não saber?

segunda-feira, 4 de junho de 2007

séries de televisão

O que é que torna uma série de televisão uma boa série de televisão?
É o mesmo que perguntar o que é que faz de um livro um bom livro?
Ou seja, quais são os ingredientes necessários de uma história?
Eu não consigo gostar de séries portuguesas. Primeiro porque raramente, muito raramente (para não dizer nunca), têm um enredo original, o que é uma das possibilidades para gerar um bom conteúdo criativo. As séries de comédia portuguesa recorrem a trocadilhos fáceis e piadas forçadas, um humor de bolso, pouco ambicioso. Não estou, é claro, a falar de programas diferentes, como o Hora H ou o Programa da Maria, mas das séries que a RTP1 costumava transmitir aos sábados à tarde e afins. Depois há as telenovelas, que fazem estender os seus dramas quase sempre similares durante episódios a fio, sem se cansarem, sem se preocuparem com a forma como as histórias são contadas, mas apenas que elas sejam contadas - caso contrário seria impossível ter um episódio por dia.
Nunca aparecem personagens com a forte personalidade de um Dr. House ou as tiradas de um Alex Keaton em Quem Sai Aos Seus. E as vozes off nunca têm a ironia de Grey's Anatomy, nenhuma série de suspense (se é que já houve alguma) teve a inteligência de Lost ou a quantidade de twists de Prison Break.
João Lopes, o crítico de cinema e dos media em geral, escreveu na revista de TV do DN que Gilmore Girls tinha todos os ingredientes de uma telenovela excepto os personagens e enredos standard, previsíveis e desinteressantes. Mas, principalmente, escreveu que tinha uns diálogos fascinantes, que é o que realmente torna a série diferente, diálogos inteligentes, cheios de ironia, humor e referências pop que impedem a monotonia e dão o real interesse à série.
Os nossos argumentos são sempre excessivamente lineares. Não é suposto uma série procurar abordar temas à força como quando ouvi na rádio os argumentistas dos Morangos Com Açúcar a gabarem-se de abordarem temas como a hiperactividade ou as dificuldades dos deficientes motores no dia-a-dia. Um tal novelo de temas só impede que hajam personagens e histórias com o mínimo de profundidade. A RTP está a passar, a seguir ao Gato Fedorento uma série chamada Conta-me Como Foi, baseada numa série espanhola, onde as referências aos anos sessenta são visivelmente forçadas, como ao insistir no relevo das mini-saias, ou nos cromos, nas caricas, etc., em lugar de deixar as personagens indo criar as suas próprias histórias, os seus próprios passados, e deixar as referências surgirem por si próprias.
A ficção portuguesa parece sempre tão falsa, tão forçada, tão pretensiosa. Talvez essa necessidade de forçar as histórias seja o que elas têm de pior, porque as histórias não se podem forçar, têm que se ser contadas como se já estivessem à espera para ser contadas, como se se tivessem, realmente, passado. Por outro lado há a falta de inovação. Para substituir o Gato a RTP lança A Minha Família, baseado num original estrangeiro, como o Conta-me Como Foi. Os Morangos Com Açúcar surgiram com a New Wave e todas as outras telenovelas brasileiras cheias de praia. O Max, bom, eu nem vou falar desse. Vou ficar por aqui.