quinta-feira, 15 de março de 2007

encontros imediatos de 3º grau

Todo o tipo de seres do Universo podem ser encontrados nos transportes públicos. A canção Os Loucos de Lisboa deve ter sido escrita nos autocarros da Carris...
Eis alguns dos personagens que eu já vi:
- Um improvável homem com camisola interior de alças, um pequeno tufo de cabelo brotando da careca, cinto punk e gestos efeminados que falava com o seu próprio reflexo na porta do metro ao passar pelos túneis escuros, cantava e por fim se zangou com alguém - sem se perceber quem - por comentarem a forma como estava vestido;
- um velho negro que queria à força que um amigo meu, J., que ia ao meu lado, mantivesse a boca fechada ("assim fica mais bónito, pá!") porque ele usa aparelho ("áquela coisa nos dentis, pá!");
- um homem, com aspecto de pessoa perpetuamente zangada com o mundo, que pediu a J. que o deixasse passar quando este se ia sentar, à minha frente, e depois se sentou no lugar que J. ia ocupar; quando o meu amigo lhe pediu para se afastar ele disse "NÃO ESTOU A VER PORQUÊ" com uma voz indevidamente indignada;
- um tipo com ares de esquizofrenia que estava a falar com a pessoa sentada ao meu lado esquerdo no autocarro (era num daqueles bancos duplos virados uns para os outros); o bizarro é que ao meu lado não havia ninguém senão o vazio e que o homem descorria sobre a sua capacidade em matar o amigo, se quisesse, pois tinha tido lições de combate e tiro pela União Soviética; o amigo insistia em não acreditar, o que era bastante frustrante tanto para mim como para o outro alucinado.
Enfim, andar de transportes públicos tem muito, muito mais piada do que ver televisão - pelo menos a portuguesa.

Um comentário:

Beatriz disse...

Como eu te percebo, tenho essa experiência todos os dias! O metro e os autocarros são um mundo...