segunda-feira, 4 de junho de 2007

séries de televisão

O que é que torna uma série de televisão uma boa série de televisão?
É o mesmo que perguntar o que é que faz de um livro um bom livro?
Ou seja, quais são os ingredientes necessários de uma história?
Eu não consigo gostar de séries portuguesas. Primeiro porque raramente, muito raramente (para não dizer nunca), têm um enredo original, o que é uma das possibilidades para gerar um bom conteúdo criativo. As séries de comédia portuguesa recorrem a trocadilhos fáceis e piadas forçadas, um humor de bolso, pouco ambicioso. Não estou, é claro, a falar de programas diferentes, como o Hora H ou o Programa da Maria, mas das séries que a RTP1 costumava transmitir aos sábados à tarde e afins. Depois há as telenovelas, que fazem estender os seus dramas quase sempre similares durante episódios a fio, sem se cansarem, sem se preocuparem com a forma como as histórias são contadas, mas apenas que elas sejam contadas - caso contrário seria impossível ter um episódio por dia.
Nunca aparecem personagens com a forte personalidade de um Dr. House ou as tiradas de um Alex Keaton em Quem Sai Aos Seus. E as vozes off nunca têm a ironia de Grey's Anatomy, nenhuma série de suspense (se é que já houve alguma) teve a inteligência de Lost ou a quantidade de twists de Prison Break.
João Lopes, o crítico de cinema e dos media em geral, escreveu na revista de TV do DN que Gilmore Girls tinha todos os ingredientes de uma telenovela excepto os personagens e enredos standard, previsíveis e desinteressantes. Mas, principalmente, escreveu que tinha uns diálogos fascinantes, que é o que realmente torna a série diferente, diálogos inteligentes, cheios de ironia, humor e referências pop que impedem a monotonia e dão o real interesse à série.
Os nossos argumentos são sempre excessivamente lineares. Não é suposto uma série procurar abordar temas à força como quando ouvi na rádio os argumentistas dos Morangos Com Açúcar a gabarem-se de abordarem temas como a hiperactividade ou as dificuldades dos deficientes motores no dia-a-dia. Um tal novelo de temas só impede que hajam personagens e histórias com o mínimo de profundidade. A RTP está a passar, a seguir ao Gato Fedorento uma série chamada Conta-me Como Foi, baseada numa série espanhola, onde as referências aos anos sessenta são visivelmente forçadas, como ao insistir no relevo das mini-saias, ou nos cromos, nas caricas, etc., em lugar de deixar as personagens indo criar as suas próprias histórias, os seus próprios passados, e deixar as referências surgirem por si próprias.
A ficção portuguesa parece sempre tão falsa, tão forçada, tão pretensiosa. Talvez essa necessidade de forçar as histórias seja o que elas têm de pior, porque as histórias não se podem forçar, têm que se ser contadas como se já estivessem à espera para ser contadas, como se se tivessem, realmente, passado. Por outro lado há a falta de inovação. Para substituir o Gato a RTP lança A Minha Família, baseado num original estrangeiro, como o Conta-me Como Foi. Os Morangos Com Açúcar surgiram com a New Wave e todas as outras telenovelas brasileiras cheias de praia. O Max, bom, eu nem vou falar desse. Vou ficar por aqui.

Um comentário:

R disse...

Mais que falta de orçamento é mesmo falta de criatividade... Mas olha, tivemos o Ballet Rose, que até era bonzinho.